sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Algodonales - Outubro 2011







O último estágio da Espiral de 2011 decorreu em Algodonales no sul de Espanha. 
 
O grupo de 17 pessoas prometia pela diversidade e pela variedade de níveis e de expectativas.


O primeiro dia tivemos vento forte e só as deltas conseguiam voar. Aproveitámos para umas aulas teóricas sobre competição, técnicas de voo e utilização dos instrumentos que veio a revelar-se bastante útil nos dias seguintes. Ao final do dia o vento baixou e todos conseguiram fazer uma bela restituição no lado sul até já não termos luz. O Bomba e o Almir enrolaram as suas primeiras térmicas no meio de mais de 50 pilotos e aterraram de sorriso nos lábios (o Almir fazia comentários estranhos que o Adalberto o tinha enganado...muito estranho...afinal a asa não fechava a cada segundo...). O Leonel, o Sérgio e o João iniciaram-se no treino das espirais. O medo abundava mas com a instrução tudo correu bem. Após o voo a desidratação era grande...



No segundo dia as condições estavam excelentes e todos acordaram cedinho como é habitual nos nossos estágios com direito a despertador humano de boa disposição. Ao carregarmos as asas nos carros o Miguel reparou que tinha deixado a asa na descolagem no dia anterior! Passamos o resto do dia a procurar a toda a gente pela asa mas nada. Para melhorar o António deixou cair o rádio em voo...

 
(O Miguel a pensar "Onde é que andará a minha asinha...Chuif...)

O voo da manhã deu direito a treinar térmicas pequenas e suaves. A maioria sobreviveu e treinou algum tempo no ar mas só o mais experientes conseguiram subir. O Vitor mostrou como se enrola e o resto da malta esforçou-se bem. O Almir enrolou tanto que perdeu o pequeno almoço que tinha comido no ar...
O tecto esteve aos 2500 metros e o Carlos foi passear com o Sérgio até aos Dos Hermanos. O António andou a visitar Zahara e voltou à aterragem num belo voo que o deixou a contar a mesma história a todos durante o resto da viagem...! 
O resto do dia foi o habitual neste fantástico local com todos a voarem o tempo que quiseram na descolagem oeste. O Tomás andou a seguir o Lérias e enrolou umas belas térmicas.



No terceiro dia o plano era todos os mais experientes fazerem distância até Ronda. De manhã esteve algum vento de Leste e tivemos de esperar que o sol fizesse o vento rodar. A experiência e o conhecimento do local revelaram-se cruciais dado que os restantes pilotos foram a pé para a descolagem leste e nós ficámos à espera que o vento caísse na descolagem Sul. Mal o vento começou a cair demos ordens para os mais experientes descolaram. O Carlos subiu em flecha até à nuvem, seguido pelo Pedro, António, Lérias e Alex. Os restantes não descolaram porque a rotação do vento foi rapidíssima e os dust devils entraram com uma violência impressionante. A distância não foi cumprida dado que o os Dos Hermanos não estavam a funcionar como habitualmente e todos aterraram lá após uma luta de mais de 2 horas a esperar a térmica nas rochas. Muita persistência do Pedro e do Carlos que partilham as mesmas características de voo...teimosos que nem um burro! Eh, eh.


Seguimos para a descolagem NW e o Leonel. o Sérgio, o Pina e eu fomos até à nuvem. Saímos em distância ( a primeira do Leonel - após grande incentivo meu porque cada vez que vira costas ao vento só quer subir...) por cima da barragem e fomos ter com os nossos amigos que nos trouxeram de volta com uma recolha de carrinha cheia...
O Homem das Árvores que já tinha mudado de alcunha 3 vezes só neste estágio passou a chamar-se homem das nuvens porque subiu aos 2150 metros e ficou um bocado branco...Ninguém o conseguia calar no rádio (e no chão depois...) de tão feliz. Gostei de ver.

O final da tarde trouxe uma óptima surpresa. A asa do Miguel apareceu devolvida por um parapentista! Grande alivio e um belo voo do Miguel para fazer as pazes com a asa...



No último dia o vento forte não permitiu que houvesse voos o que tornou a viagem de regresso menos cansativa. Encontrámos o rádio perdido após uma busca intensa no meio do mato e de uma reza providencial ao Santo António.
Claro que neste pequeno relato faltam os muitos litros de cerveja, as muitas horas de pessoal a ressonar, os ossos e baldes metidos dentro dos sacos das asas sem os donos saberem (alguns só descobriram já em Portugal...), os jantares com as nossas amigas muito simpáticas do restaurante e os muitos bons momentos de convívio...


terça-feira, 6 de setembro de 2011

Eslovénia





A ideia de poder ir voar à Eslovénia era um plano que já existia há muito tempo na minha cabeça. A oportunidade veio com o convite de um amigo para participar numa prova chamada Serial Cup. A juntar a esta ideia tentadora a prova teria palestras de pilotos com experiências variadas desde recordistas do mundo de voo em distância, a escritores de livros sobre parapente, passando por novos pilotos do PWC. Não houve dúvidas...

Na altura em que a prova foi anunciada era uma novidade dado que apenas iriam participar asas homologadas. Os acontecimentos em Piedrahita vieram ditar que afinal todas as provas virão a ser assim.


O ponto de encontro foi marcado para Veneza e, após algumas peripécias, lá conseguimos conduzir até ao nosso belo apartamento em Gabrje perto de Tolmin.

No primeiro dia subimos para a descolagem no nosso carro e descobrimos que tínhamos de pagar 8€ para podermos descolar. Apesar de caro a descolagem e os acessos são muito bons e o voo foi compensador do dinheiro gasto.



O Matias ofereceu-se como condutor e os restantes fizeram a estreia do local com um pequeno voo de distância pelo vale até Kobarid. Deu para perceber as térmicas residentes e para apreciar as diferentes arestas. As aterragens são inúmeras e existem diversas aterragens oficiais onde se consegue aterrar de avião...






Para terminar o dia subimos até à descolagem acima de Kobarid por um caminho horroroso em que o carro quase não resistiu. Com um desnível de 1000 metros fizemos uma marreca de 18 minutos.

No segundo dia as nuvens e a chuva fizeram-nos rumar a Lubliana para uma visita cultural. A cidade é fantástica com uma vida nocturna muito animada. A cidade tem edifícios muito cuidados e vale a pena uma visita.








No terceiro dia (1º dia de competição) o vento forte não permitiu que houvesse manga. Aproveitámos para fazer umas caminhadas. Por todo o vale existem trilhos fantásticos e para todos os níveis. Visitámos dois deles de curta duração. Ainda nos aventurámos a explorar uma caverna mas íamos ficando lá dentro. O Araujo deixou-nos neste dia para ir trabalhar (onde é que já se viu deixar de ir voar para ir trabalhar...enfim).





Por esta altura as saudades das mulheres já faziam com que o pessoal começasse a achar que a companhia estava a ficar mais bonita...desespero!



Na primeira manga mudámos de local e fomos descolar a Stohl. A manga consistia em andar a fazer zig-zags pela encosta fora e umas idas ao vale para picar as balizas. Com 80 pilotos em prova a encosta ficou super-povoada de pilotos e o difícil era marrecar. Todos os portugueses voaram bem mas fomos muito lentos dado que o nosso tipo de voo em competição é mais de sobrevivência. Enrolámos demais e perdemos demasiado tempo. Chegaram ao golo o Nunes e eu, o Pedro ficou a 200 metros e o António ficou perto. O Carlos atrasou-se de levar o Araujo a Veneza e não conseguiu transporte para cima.




Aprendemos uma lição que fomos pondo em prática ao longo da semana. Não vale a pena enrolar e subir muito neste tipo de encostas, é ir de acelerador e andar rápido. Tudo o que está ao sol bomba. Eu não fiz o start devido a um erro do meu GPS que aprendi a duras penas a compensar nas mangas seguintes. Mais uma lição a aprender: não testar aparelhos em prova - fazer provas em casa primeiro.


A segunda manga foi feita de Kobala e andámos a passear por todo o vale. Eu e o Nunes apostámos em voar mais rápido e correu bem até as nuvens cobrirem todo o vale a manga ser parada devido a uma trovoada. O Pedro estava a chegar ao golo quando pararam.



Nos dois dias seguintes voámos de local devido aos tectos baixos e fomos mais para sul para Lijak. Um local muito bom de escola. Uma encostas com mais de 20 km que tem ao lado duas outras encostas para onde é possivel transitar. Aterragens a perder de vista.
Uma das mangas foi cancelada connosco em voo porque começou a chover. Os eslovenos não se impressionam facilmente com CB´s! Nós nunca abriríamos mangas com tantas nuvens no céu e com tão mau aspecto (eu próprio me questionei o que andava a fazer a voar com aqueles monstros no céu...) mas a qualidade e o detalhe do organizador encarregue da meteo era fantástica o que nos deu muita segurança. Nesse dia foram cerca de 70 pilotos a voar de orelhas a chover...



No ultimo dia em Liak a manga era de 100km e foi um fantástico dia de voo. O voo consistia em fazer algumas balizas ao longo da primeira encosta e depois transitar para uma segunda encosta distante uns 10km com um vale aberto pelo meio. Na parte final tínhamos uma baliza que exigia um planeio de cerca de 14 km com vento de frente. Fizemos bem toda a primeira parte da manga com boas transições. Foi engraçado ver o Nunes sempre a acelerar para acompanhar o resto da malta sem perder tempo a enrolar porque tinha saído baixo do start. Ainda vi um reserva de um piloto que saiu de uma nuvem com uma gravata. Após a última baliza em que subimos à nuvem o planeio final parecia coisa fácil porque íamos a subir numa linha de convergência...excesso de confiança! Apanhámos vento de frente no vale e o resultado foi ficarmos a 700 metros da ultima baliza e a 1,7 km do golo. Mas foi uma excelente manga.



Para terminar em beleza no ultimo dia tivemos excelentes condições. Uma manga de 60k com idas às cristas mais altas. O start foi feito com uma espera de 15 minutos a surfar nuvens junto com os top-pilots por mim e pelo Carlos. Uma paisagem lunar com um refugio de montanha ao nosso lado e no topo de uma crista vertical com mais de 1200 metros. Parti em 4º lugar mas depressa abrandei na barra do acelerador porque a ideia era aproveitar as férias e a falta de idas ao ginásio não permitem andar 2 horas acelerado...





Umas férias fantásticas com excelentes voos. Recomenda-se o local, as pessoas, o turismo e os locais de voo.







segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Piedrahita e Pedro Bernardo - Junho 2011




A realização do primeiro estágio da Espiral de 2011 parecia uma tarefa impossível de realizar devido ao mau tempo que teimou em gorar as expectativas durante a Primavera. Após 2 estágios cancelados lá conseguimos uma aberta no tempo e apontámos baterias para uma actividade repartida entre dois dos melhores locais de voo de Espanha.




Piedrahita é uma pequena aldeia perdida no centro de Espanha junto à cordilheira central. Considerada uma meca do Parapente a nível mundial. As condições de voo permitem voos fáceis de distância para ambos os lados da descolagem e imensos campos de aterragem (por vezes com uns touros à mistura...).


A lotação do estágio era completa e tivemos de recusar algumas inscrições para manter os níveis de qualidade. Após uma viagem longa as reservas do alojamento funcionaram na perfeição. O tipico pequeno almoço da famosa pousada surpreendeu os novatos no local com a sua "variedade alimentar". Após o magnifico repasto fizemos o habitual reconhecimento da aterragem e das alternativas e fomos para a descolagem fazer as primeiras marrecas de habituação ao local.





A descolagem estava em obras e os melhoramentos eram impressionantes. O mundial iria começar dentro de 15 dias e o investimento revelou-se muito bom dado que ficámos com uma descolagem das melhores que conheço.


A temperatura era de cerca de 7 graus (em Junho...) e a malta toda percebeu a razão dos conselhos dados sobre o equipamento a levar! Alguns deram uso a toda a roupa que tinham e mais alguma! Para outros o frio não incomodava porque a ressaca da viagem e de uns copos ainda não tinha passado...









O dia tinha bastantes nuvens mas sem grandes desenvolvimentos verticais. Todos voaram imenso com direito a alguma pequenas distancias para os mais experientes ou atrevidos. Ninguém conseguiu passar o "objectivo" de Vilatoro e as recolhas funcionaram a 100%.





Ao final do dia a restituição deu para que todos aproveitassem o boianço generalizado e permitiu que alguns se iniciassem na aprendizagem das espirais (alguns menos afoitos não quiseram seguir as instruções no rádio e a espiral parecia mais um 360, mas enfim...).




O segundo dia mostrou-se muito mais generoso e deu para uns belos voos de distância sendo a maior conseguida pelo nosso amigo Pedro Rodrigues que foi visitar Ávila na sua primeira distância fora do vale. O tecto esteve nos 3000 metros o que permitiu uns belos passeios pelo vale.






As previsões apontavam para que o 3º dia fosse o mais duvidoso e não falharam. Rumámos a Pedro Bernardo para proporcionar aos pilotos uma diversidade que lhes permitisse voar no máximo de condições diferentes possivel. Em Piedrahita não se voou neste dia.

Em Pedro Bernardo só se voou no voo da manhã mas foi bonito de ver os maçaricos todos (Araujo, Diogo, João Silva, Fred, Vitor, etc) a mostrar aos "velhotes" como é que se consegue ficar a aproveitar os zerinhos da manhã sem marrecar. Depois o vento só permitiu umas horas de convivio e de canhas. Ainda tentamos desporto alternativo na descolagem mas revelou-se muito violento...o João Silva tentou voar sem asa e o futebol humano revelou-se um desastre...!


A alvorada no ultimo dia foi cedo para inspirar para os voos. Uma caminhada logo pela manhã para descobrir as belezas naturais de Pedro Bernardo.



Para terminar em beleza planeamos um voo de distância especialmente dirigido aos mais novos no grupo. Após alguma luta na subida seguiram todos na rota planeada. O tecto estava baixo devido a estarmos a voar abrigados do vento meteorológico e só permitiu subir cerca de 1000 metros acima da descolagem.




Foi muito giro para mim enquanto instrutor levar um grupo de alunos a fazer voo de distância aos quais ainda à poucos meses atrás estava a ensinar-lhes o que era um parapente. Saimos em direcção a Piedralaves e foram ficando pelo caminho um a um até o mais resistente (Hugo - também conhecido por Alentejano...) ficar em Piedralaves. De cima parecia que eu ia deixando cair pedras para me orientar no caminho. Um dos melhores voos que fiz (não tem nada a ver com km ou altitude )e que me deu mais prazer por ter conseguido levar tantos alunos ao mesmo tempo a fazer distância daqueles que formei desde o zero.







Todos cumpriram os objectivos e fizeram umas boas distâncias para o dia que estava. A recolha foi impecável. Venham mais que este foi um sucesso...!